Música: Conrado Pera, o "Enlaçador de Mundos"


Música faz bem para alma e é essencial em nosso dia a dia. Nós do Jardim estamos sempre buscando artistas independentes com lindos projetos. Hoje vamos contar a história de Conrado Pera, 32 anos, nascido em São Paulo, morou em diferentes Estados e à muitos anos reside em Alto Paraíso de Goiás - Chapada dos Veadeiros, no coração do Brasil. Lançou recentemente o CD "Enlaçador de Mundos", "um disco de muitas essências, mas de um único sentimento que chega forte e pulsante logo numa primeira escuta: o de liberdade." (Cuíra Musical)

Jardim: Como iniciou no mundo da música? Há quanto tempo você canta? 
Conrado: Cantar mesmo há uns dez anos, antes disso era apenas multi-instrumentista. Meu pai é músico e me ensinou ainda pequeno os primeiros acordes. Desde os quinze anos participo de diversas bandas de forró, mpb, reggae, dub, jazz, etc, como instrumentista. Em 2011 nós formamos o Viajarte, onde passei a cantar e apresentar minhas músicas. E neste ano (2015) me lancei como cantor e compositor com meu primeiro álbum “Enlaçador de Mundos”.

J.: Conte um pouco sobre o Viajarte:
C.: O Viajarte é um espetáculo co-criado com Miag Makibara, que pretende unir as diversas “artes” em um propósito comum.

J.: Quais são os integrandes da banda?
C.: Ismael Fonte (baixo), Lieber Rodrigues (bateria), Renato Segredo (guitarra) e Luana Castanho (voz)

J.: Suas canções são maravilhosas. Quais suas principais influências? De onde vem a inspiração?
C.: Ouço inúmeros sons dos mais variados cantos do Brasil e do mundo. De música tradicional à mais contemporânea e psicodélica. Hoje passei a ser influenciado pelos meus próprios parceiros e contemporâneos como: Achiles Neto, Paulo Monarco, Marcus Marinho, François Muleka, pelo canto de Dandara, Thamires Tannous, Luana Castanho e Tereza Raquel.

J.: Além de cantar, você toca quais instrumentos? 
C.: Alguns, além de panelas, garrafas, bambus e conduítes.

J.: Quais ritmos você traz em seu CD e quais instrumentos utilizados? 
C.: Creio que não trago nenhum ritmo da maneira como é tocado tradicionalmente. Meu baião não é bem um baião, meu maracatu não é bem maracatu, assim como meu jazz não é jazz. São fusões e contemporâneizações de diversos ritmos populares do Brasil, e do exterior, que acabam gerando outros, aos quais não sei denominar ou definir e talvez não sinta necessidade de. Contudo nele (CD) é possível encontrar influências de baião, coco, maracatu, frevo, balada, jazz, cumbia, ijexá, moda de viola, folia, cantoria, e mais uma porção de brasilidades.
De rabecas ao clarinete, de charango ao balafom, passando por dununs, djembês, zabumba, flautas, violoncelo, baixo, bateria, guitarra, samplers, etc.

J.: Como surgiu a inspiração para criar a capa do CD e o nome do disco "Enlaçador de Mundos"?
C.: A pintura foi concebida pelo artista chileno Nacho para uma performance de dança na qual participei. Esta, entre diversas concepções inclusas, tinha a proposta de ilustrar a incitação de uma consciência avatárica de reconexão com o divino que habita em cada um, incitando também uma mudança comportamental em relação à maneira que nos relacionamos com o planeta que habitamos e com todos os seres que compartilham conosco deste mesmo meio, ressaltando o caráter urgencial da transformação do modo materialista, elitista e degradatório e em que nossa sociedade é baseada. Quando o CD nasceu, enquanto música, a pintura facial e toda essa concepção implícita na imagem vieram perfeitamente à calhar.
O principal calendário utilizado pelos maias é o Tzolkin, que significa “Contagem Sagrada dos Kin”. Os Kins são unidades, representam um dia, um sol, qualquer entidade completa, uma pessoa. De acordo com este calendário este é o kin do meu nascimento: Enlaçador de Mundos. É aonde os mundos se encontram, é a ponte entre eles. É também a morte e a vida: “A porta dimensional na qual se unem dois aspectos da existência: vida e morte. Consciência do aqui e do além. Regeneração. Transmutação. Ponte entre dois mundos. Guiado pelo poder do coração”
De uma forma mais sucinta é a ponte entre os mundos material e espiritual, assim como entre os mundos das diversas pessoas, ritmos, concepções e influências que de certa forma fazem parte do meu ser, e não poderiam estar de fora da concepção deste meu primeiro trabalho como compositor e cantor.

J.: Tem alguma parceria musical que você sonha em fazer?
C.: Já que é pra sonhar: Milton Nascimento, Gil e Caetano.

J.: Há dez anos você saiu em uma grande viagem, qual era o objetivo, como foi? 
C.: Para mim era (e ainda é) algo muito natural, e até lógico, um homem querer compreender um pouquinho mais sobre o mundo em que vive, sobre o ser humano em si, e sobre sua própria existência e o seu papel nisso tudo. Até porque como poderia eu escrever canções sobre um barco sem andar nele?
Deixo aqui a frase do livro “Mar Aberto” de Amir Klink que resume bem a necessidade que sentia e ainda sinto: “Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores (e artistas, compositores) do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver…. o mundo pela TV é lindo mas serve pra pouca coisa.”

J.: Quais suas crenças? 
C.: Minhas crenças são mutantes e dinâmicas como a vida.

J.: Qual lugar você mais gostou de conhecer? E a Chapada dos Veadeiros? 
C.: Muitos, em cada momento da vida escolheria um lugar diferente para essa resposta. Aqui na Chapada encontrei, além da natureza exuberante, um grande número de pessoas oriundas de diversas nacionalidades que anseiam pela mesma perspectiva de vida, de certa forma mais saudável e sustentável (a palavra da moda) em comparação ao dos grandes centros urbanos. Também encontrei incentivo motivacional para que meu trabalho aflorasse, e tempo para que eu pudesse me ouvir e me colocar como artista.
Agora lidamos com a ameaça gerada pela ganância de poucos poderosos detentores de capital: hidroelétricas, grandes monoculturas de soja que devastam o cerrado, tentativa de implantação de sistema de tratamento de esgoto antiquado gerando poluição das águas cristalinas. Até mesmo o paraíso não está imune à corrupção.

Enlaçador de mundos
De Conrado Pera. Independente, 10 faixas. Disponível para download no site oficial (http://www.conradopera.com.br).







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