ENTRETENIMENTO
Johnny Hooker - Você ainda não conhece?
Você já ouviu Johnny Hooker? É isso mesmo, Hooker. Assim como na gíria se fala prostituta em inglês. A escolha do nome artístico é proposital. O pernambucano, ganhador do Prêmio da Música Brasileira como melhor cantor popular, veste-se da melhor maneira à la cafetão nordestino pronto pra rasgar uma cantoria brega pra plateia e ganhar o público feminino, aos gritos. No entanto, deixando toda a heteronormatividade de lado, ele surpreende ao incluir nas letras (“nos corpos dos homens que amei”) e nos clipes cenas e dizeres de um amor que em nada tem a ver com o cafetão e a prostituta tradicionais. É um “Amor marginal” subversivo que ele canta, quebrando a expectativa e os preconceitos, cantando e sambando na cara da sociedade.
Tem um quê performático na vestimenta e na interpretação que lembra demais Ney Matogrosso (ou o Robert Smith, do The Cure) à época dos Secos e Molhados, enquanto o timbre mais lembra Cazuza, e a pegada é por vezes um rock, um samba, ou até um tecno-brega(!), com muitos metais ou atabaques ao fundo. Por mais que as letras falem do batido e quase clichê amor, amor-desilusão, como em “Amor Marginal”, “Volta” e “Segunda Chance”, é de uma forma escrachada, que não deixa de ser poética demais, nos versos e na melodia, trazendo a brasilidade em cada canto de suas composições e performances, sempre muito marcantes e de fortes contornos, como o lápis de olho que ele usa.
Seu primeiro álbum, “Eu Vou Fazer Uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito!" foi aclamadíssimo pela crítica especializada. Ou seja, um artista que em tudo poderia ser visto como “indie”, agradando a um seguimento específico da população, mais “cult” (público que, segundo redes de streaming como Spotify, também ouve Los Hermanos e Karina Buhr). No entanto, ele caiu no gosto popular, da “massa”, e é figurinha marcada em programas da Rede Globo, tendo participado da trilha sonora de novelas da emissora mais rechaçada pelo público “cult” do Brasil.
Sem julgamentos, muito pelo contrário. É desses contrastes e dessas nuances que vem a riqueza de sua música e trajetória. Por isso tudo e mais um pouco, acho que você deveria ouvir o Johnny. Porque é música de alma brasileira e contemporânea!