VIAGEM
Diário de viagem: carona até Florianópolis! Julho/2014
É impressionante como a vida dá voltas, e que voltas, 2014 iniciou e eu estava em fase de mudanças, evoluções, muitos planos, muitos sonhos e inspiração não faltava. Uma delas foi o filme Into the wild que o meu amigo Lucas recomendou. Há algum tempo eu seguia a Eveline (Aloha) em sua página Alo Alo Marciano, suas histórias detalhadas fazia viajar para longe. Em 2013 eu conheci a Francisca (chica) de Portugal em um onibus metropolitano sentido a Foz do Iguaçu, ela estava com seu cachorro e me disse que estava viajando por aí conhecendo o Brasil, falei da minha vontade de fazer o mesmo, recebi várias dicas, recomendação do livro O poder do Agora e a palavra-chave: DESAPEGO. Logo mais conheci o projeto Portas Abertas da Aline Campbell, que viajou a Europa de carona por 90 dias e agora viaja o Brasil com seu cachorro Saga. E também a página 100 dinheiro 100 frescura 1000 destinos, da Pãmela, com mais dicas e histórias inspiradoras. E cada vez confirmava a minha vontade de viajar, desbravar, explorar ou peregrinar (diria a Chica). Muita pesquisa, passei a estudar rotas, o que levar, quando ir. Planos e mais planos, indecisões e mudanças durante o ano. Com o passaporte em mãos, queria conhecer outros lugares. Europa? Não. O destino preparava algo diferente, comecei a entender o que estava acontecendo.
Quarta-feira, 22 de maio de 2014, 01:00 da manhã, e a indecisão, ir para Brasília conhecer o congresso da UJS ou não. Ao conversar com uma amiga, Ynaiara, decidimos: vamos viajar de carona sem destino, sim! Surge a ideia de ir para Florianópolis, cidade que ainda não conhecia, e o convite do Douglas Meister para conhecer sua casa na Ilha. Juntei uns trocados com as vendas do Jardim Eclético, era o suficiente. A ansiedade só aumentava e começamos arrumar as mochilas, avisei minha mãe já sabendo da agonia que ela ficaria ao saber que iria viajar de carona, então apresentei os projetos e mostrei que o mal existe em todo lugar e que existem pessoas boas no mundo. Dormir? quase impossível ao saber que no outro dia iria começar realizar minha vontade. Quarta-feira, 07:30, levantei animada e terminei de arrumar o que restava, dei uma volta de bicicleta ao som de Eddie Vedder para entrar no clima, resolvi algumas coisas e me despedi da minha amiga Camila que também iria viajar, almocei com a família e fui para rodoviária encontrar a Ynaiara, de lá fomos para Medianeira.
Ao chegar, paramos no posto Jóia buscando informações, um frentista de boa vontade, nos levou para dois postos próximos e nos deixou no que seria ideal, paramos na BR 277 e em cinco minutos conseguimos a primeira carona de um caminhoeiro, Adão, que nos deu várias dicas e nos deixou na polícia de Céu Azul. Eu ainda não estava acreditando que estavamos realmente fazendo isso, erguemos a plaquinha de papelão com a seguinte escrita: CTBA, e assim parou uma carreta do Sr. Edson, um homem super gente boa, eles estavam em 7 carretas rumo a Ponta Grossa, no caminho recebemos mais dicas, compartilhamos histórias, aprendendo muito sobre o estilo de vida deles. Paramos para o lanche, as carretas são super equipadas, fogão, ganhamos sanduíches, chás, café, bolacha. Fome nós não iriamos passar. Alguns deles eram do Paraguay, como de costume: terere, chimarrão, e uma nova descoberta: é possível fazer chimarrão com a erva de terere Kurupi e é uma delícia.
Ao chegar em Ponta Grossa, na transportadora, começamos armar a barraca para no dia seguinte pedir a próxima carona, então o Sr. Nelson, super prestativo, deixou a gente dormir na carreta dele e foi dormir com os companheiros.
DIA 2
Não sei por onde começar esse segundo dia. A dica que dou pra vocês é: nunca desista, por maior que for a dificuldade, nós estamos aqui justamente para passar por coisas boas e ruins, observe e absorva, e só lhe restará experiência.
Quinta-feira, 22 de maio às 06:30, levantamos, organizamos as coisas. Eu estava empolgada para pedir a próxima carona, até a hora que vi o tempo: frio, mas muito frio e chuva. Nós fomos até um quiosque onde estavam os outros caminhoneiros tomando o seu chimarrão de Kurupi e comendo umas bolachinhas, conversamos muito. Como eles estavam indo embora, pensamos em voltar com eles. Pensamos em ir até Curitiba na casa da Elis. Pensamos em tanta coisa, e eu estava me sentindo frustrada só pelo fato de pensar em voltar, não, eu jamais iria até um lugar e voltar. Então cantei, cantei sem parar a música do Gaia Pia, "Venha Sol" era a única coisa que vinha na minha cabeça naquele momento. Conversamos com outros caminhoneiros que estavam lá para descarregar, para saber onde eles iriam, e nada. Aguardamos o Sr. Nelson descarregar e ele nos deixou em um ponto de ônibus, super preocupado, ele não queria ir embora enquanto a gente não conseguisse. Estava chovendo forte, e eu estava lá, com a plaquinha em mãos, fazendo sinais, ninguém parava. Acho que porque era ponto de ônibus, ou sei lá.
Ficamos nesse ponto até umas 11:00hs. Até que, por alguma coincidência, um homem parou sua carreta logo a frente para olhar o mapa. Será? eu sou suspeita a falar. Ynaiara bateu em sua carreta e ele abriu assustado, falou que estava olhando o mapa, nós trocamos ideia e já entramos na carreta. Ele estava indo sentido a São Francisco do Sul, cidade que ficava na Br 101, o que facilitaria muito nossa chegada até Florianópolis. Eu estava muito feliz por conseguir chegar mais perto do que pretendia. Andamos uns 10 km e ele parou pra gente comer e tomar banho.
Esse motorista, que eu prefiro chamar de Maníaco do Badoo, era aparentemente jovem, com seus 30 e poucos anos, sistemático, tivemos que tirar os calçados, ele tinha mania de organizar tudo o tempo todo, queria até amarrar nossas mochilas, até ai tudo bem, mas ele começou falar uns assuntos estranhos: góticos, casas de swing, mortes, etc. Prefiro não entrar em detalhes. Paramos novamente, desta vez, para ele comer, ele disse: "- não deixe ninguém saber que vocês estão de carona, vamos agir como se a gente já se conhecesse, vamos ser uma família feliz." O medo começou a tomar conta, e eu lutava contra isso todo tempo, eu era forte, como ia sentir medo de um cara qualquer. Seguimos viagem, eu dormi um pouco, quando vi já estavamos próximas a nossa parada, faltava 4 km para ele virar e a gente ia ficar por ali, mas ele insistiu, falou pra gente ir com ele até a cidade que era rápido, que logo voltaria para deixar a gente em Itajai. Chegamos na transportadora as 19:30 e tinhamos que esperar até as 21:00 para saber quando seria a vez dele, jantamos em um barzinho qualquer: peixe, arroz, feijão, batata-frita. Parecia um lugarzinho fuleiro, mas com a fome que eu estava, era a melhor comida do mundo, aproveitei tomar uma cerveja, para ver se o stress passava. Ele pedia pra gente ficar dentro do caminhão, fechava as cortinas, ninguém podia saber que a gente estava lá, pois se não os outros iam falar mal da gente. Falar mal do que? ninguém me conhecia, eu não estava nem aí para opinião de ninguém, eu só queria pegar minha mochila e sair dali, desse lugar sinistro com iluminação macabra.
Começou ficar tarde e eu peguei no sono, enquanto o cara estava usando o Badoo para falar com mulheres estranhas, Ynaiara estava no celular, e ele com uma voz sinistra falou: "Gracinha, já está dormindo?", o medo tomou conta, Ynaiara me acordou rápido, descemos do caminhão e ficamos tentando bolar um plano de sair dali, ligamos para vários amigos, eu estava me comunicando por whats app com minha prima e irmã, mandei fotos do cidadão e a placa. Mas além de tudo, mantive a calma. Não podia demonstrar que estavamos apavoradas. 02:30 da manhã e um homem chama ele para descarregar, nós procuramos um banheiro e lugar pra ficar, planejamos várias coisas e decidimos ir com ele até Itajai. No caminho, iamos concordando com tudo que ele falava, programamos várias coisas pra não irritar ele. Ao chegar no trevo, paramos em um posto, ele disse que não iria mais pra Itajaí, pediu pra gente procurar uma carona.
Eu estava aguardando um amigo, Ezedo, que estava vindo de Balneário Camboriu salvar a gente. Não estava mais aguentando de tanto sono, dor no corpo, a cabeça doendo. Foi muita pressão psicológica, mas passou, quando vi o carro do meu amigo chegando. Seguimos viagem até sua casa, onde comemos e descansamos.
Por maior que seja a tempestade, não devemos perder o equilibrio. O fardo nunca será maior do que podemos carregar. Esse dia da viagem, prefiro apagar, mas foi só experiência. Por isso dou a dica: mantenha a calma sempre, as vezes, ficamos tão paranóicos que qualquer movimento que a outra pessoa fizer, vamos pensar algo ruim e as vezes é coisa da nossa cabeça. Se você perceber que algo está estranho, muito estranho, tente sair e pedir outra carona. Mas nunca desanime, nunca desista. ACREDITE: o universo conspira a nosso favor. Hoje pode ser que deu errado, que foi difícil, então durma, que amanhã tem muito mais. Coisas lindas foram preparadas pra você.
DIA 3
É isso, espero que tenham gostado... na época eu deixei de escrever como foi a volta, mas deu tudo certo! Deixo aqui o video da nossa viagem!
Por maior que seja a tempestade, não devemos perder o equilibrio. O fardo nunca será maior do que podemos carregar. Esse dia da viagem, prefiro apagar, mas foi só experiência. Por isso dou a dica: mantenha a calma sempre, as vezes, ficamos tão paranóicos que qualquer movimento que a outra pessoa fizer, vamos pensar algo ruim e as vezes é coisa da nossa cabeça. Se você perceber que algo está estranho, muito estranho, tente sair e pedir outra carona. Mas nunca desanime, nunca desista. ACREDITE: o universo conspira a nosso favor. Hoje pode ser que deu errado, que foi difícil, então durma, que amanhã tem muito mais. Coisas lindas foram preparadas pra você.
DIA 3
Leia ao som de Planta e Raiz! :D
Como já havia dito, dormimos na casa do Ézedo, eu estava muito cansada, jamais aguentaria seguir até Florianópolis direto. Acordamos meio-dia, almoçamos e tomamos um banho. Detalhe: levei uma caixa de chá: fazia toda hora. Fiquei tentando relembrar as cenas do dia anterior e comecei rir, apesar do susto, foi engraçado. Voltamos a dormir.
As 18:30 o meu amigo levou a gente em um posto na BR 101, paramos para consertar a mochila da Ynaiara que já estava arrebentando, estava chovendo, seguimos próximo a uma lombada pegar a próxima carona rumo o Florianópolis, dessa vez sem plaquinha.
Demorou dez minutos e parou um caminhão, dessa vez era o Sr. Osmar, ele disse que parou pois lembrou das filhas dele. Durante o caminho, contou que estava indo para um baile, ver uma "gambiarra", a gente riu muito, ele era uma figura, inclusive quebrava as cancelas do pedágio. Explicou como deveríamos chegar no nosso destino, deixando a gente em um ponto de onibus em São Jorge - SC. Ficamos um tempão nesse ponto de ônibus, esperando o tal (terminal centro - florianópolis) e nada. Paramos vários, os motoristas ficaram de cara, até que resolvemos entrar em um qualquer. Nesse ônibus conhecemos a Laise, super querida, uma mulher que queria viajar com a gente, ela disse que admirava nossa coragem. Ela e a cobradora disseram que pegamos o ônibus errado, aí nós paramos onde a Laíse ia ficar e ela nos ajudou pegar o certo. Nos deu um abraço apertado, desejou boa sorte e foi. Não lembro ao certo qual ônibus entramos, mas conseguimos chegar no terminal do centro, onde pegamos mais dois ônibus, no último conhecemos o Ricardo, que nos convidou para conhecer as trilhas. Anotamos o facebook mas não conseguimos contato, somente quando voltamos de viagem. Fiquei toda hora perguntando quando era para descer, na tal Igrejinha da Armação.
Às 21:00hs chegou o momento tão esperado, o menino avisou que era a nossa parada, ao descer, dei de cara com o cemitério, fiquei olhando as lojinhas, observando tudo e avistei o mar, olhei pra Yna e gritamos juntas: - o mar! Hahaha, foi bizarro, saimos correndo como se nunca tivesse visto a praia. A felicidade era grande, várias fotos. E enfim chegou nosso amigo, Vaca, com as compras para o jantar. Seguimos rumo a Praia do Matadeiro, uma trilha cansativa, para quem estava viajando de carona com mil kilos nas costas, ainda mais eu que sou pequeninha, passamos por várias casinhas lindas, seguimos pela areia, até chegar a adorável casa do Douglas. Preparei um risoto e tomamos umas cervejas, conhecemos o seu amigo Gabriel, o resto da casa, depois de assistir um filme, dormimos!
Valeu a pena passar o susto, com a vista linda da janela do quarto e dormir ouvindo o som do mar, foi sem palavras. Algo de bom tinha sido preparado pra gente.
DIA 4
Acordamos lá pelas 10:00hs da manhã, o café estava sendo preparado pelo Douglas, sentamos no deckzinho, a vista é maravilhosa, estou encantada. A ilha tem um poder incrível de abraçar quem visita e não deixa ir embora.
Para se conhecer Florianópolis de verdade, é preciso caminhar e explorar suas trilhas e parques, então, preparamos as mochilas para fazer uma trilha, até a Lagoinha do Leste. Seguimos pelo acesso mais longo - 4km, pela praia do Matadeiro, proporcionando mais visuais, o som da natureza durante a caminhada é constante, apesar dos calos nos pés, dor no corpo, valeu muito a pena, foi maravilhoso. Só indo lá pra saber quão perfeita é a mãe natureza.
Quando desci até a praia deserta, cantei de felicidade, a beleza é rara. Nos trechos em que a trilha fica aberta, pode-se observar a extensão de areia e, ao fundo, a lagoa de água doce que dá nome à praia. Fui seguindo até o outro lado da praia para procurar um casal de amigos, mas só encontramos uns hippies, o Maycon, o Rasta e uns amigos deles, eles tem um acampamento incrivelmente equipado, com fogão a lenha, chuveiro. Fiquei impressionada com tudo que eles haviam criado ali. Preparamos uma fogueira, dividimos um vinho, enquanto eles contavam histórias que já rolaram ali na Lagoinha. Como já ia escurecer seguimos a trilha, pelo Pântano do Sul - 2,3km.
* Se você for visitar essa maravilha: preserve a natureza, não deixando lixo, não trazendo plantas, mudas, pedras ou qualquer outra coisa do ambiente natural. Lembre-se de deixar tudo como você encontrou, para que este paraíso da costa leste de Florianópolis possa ser apreciado por várias gerações.
Ao terminar a trilha, pegamos um ônibus até a Igrejinha da Armação, andamos mais 1km até a casa do Douglas, preparamos uma janta e assistimos Trainspotting.